Ana Stoppa - Escritas, Versos & Reversos

Se não puder alcançar as estrelas agradeça a Deus por vê-las. (Ana Stoppa)

Textos


Conto Natalino
 
 
“Mágico Natal - O Cristo Que Vive Em Nós”
                                                   

-
Não,  não vou comemorar - dizia para si mesma Marília, envolta nos pensamentos embaralhados, próprios das pessoas agitadas que no final das contas têm muito pouco ou quase nada para pedir e muito para agradecer.

As luzes multicoloridas, os pinheiros, espírito natalino, não a tocaram.

- Imagine Natal? Não,  não vou comemorar - repetia no pensamento em círculos enquanto caminhava  entre as ruas do movimentado centro,esbarrando nas pessoas que mais se pareciam com  árvores
enfeitadas de sacolas, presentes e mais presentes - felizes buscavam o retorno para o espaço sagrado – o lar.

Marília achava aquilo tudo mero consumismo.

Mais alguns passos se viu diante de uma pequena capela.

Singela, à meia luz, algumas velas acesas pelos devotos, a imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços.

O metal do salto alto dos sapatos fazia eco no chão de cimento.

Sentou-se no último banco olhando para o nada, seu coração endurecera, de há muito não conjugava o verbo amar.

Solidariedade, sorriso, amor ao próximo?

- Nem pensar.

Sentiu-se repentinamente cansada.

Viu sua vida em preto e branco.


Pai nosso, que estais nos céus....

Cerrou os olhos e viu o pai que estava no céu.

Santificado seja o vosso nome....

Santificado ao lado de Deus pai, enxergou seu pai que há alguns anos havia voltado para a casa paterna, a eterna.

Venha a nós o vosso reino...

O reino da infância Marília relembrava naquele momento em que estava consigo tentando reencontrar os valores da vida.

Viu-se brincado de amarelinha, esconde-esconde, casinha, bonecas.

Sentia o sabor do doce de leite, o aroma da manhã primaveril, a delícia do banho de chuva, a alegria de esperar o Papai Noel.

Lembrou-se que colocava os sapatinhos na  janela esperando na manhã de Natal a chegada mágica do presente.

Sentiu uma saudade enorme da família reunida embaixo da ameixeira em uma grande mesa improvisada, repleta de alimentos, todos felizes comemorando.

Seja feita a vossa vontade....

Aos poucos chegavam mais pessoas na capela, acediam as velas, clareando gradativamente o tempo.


O espaço sagrado iluminava o coração de Marília.

Sentiu na face o sal das  lágrimas.


Pela vontade do pai, recordando a mesa da infância, via somente a toalha branca, a ameixeira carregada..

As pessoas, as pessoas, como que jogos do parque de diversões, na medida em que Marília olhava o passado via as luzes, quer dizer as pessoas, saindo.

Restou a toalha branca, rebordada de saudades.

Os avós, os pais, os tios, que pareciam eternos, um a um sem pedir licença, deixaram o lugar na mesa.

Saudades.

Assim na terra como nos céus....

Todos agora participavam de um banquete celestial.

O pão nosso de cada dia....

Agora não precisavam de mais nada do mundo terreno - receberam o pão da vida.

Diante das lágrimas repentinamente Marília descobriu a importância do Natal.

Da ressurreição de Cristo, do reencontro na casa do Pai.

Nos dai hoje...

Reviveu a infância, a adolescência, reviu os familiares queridos, percebeu que naquele momento, alguém lhe dera algo precioso.

Perdoai as nossas ofensas,

Assim como nos perdoamos a quem nos tem ofendido.

Ouviu o soar dos sinos, as luzes da igrejinha se acenderam.

Viu a pequena capela repleta.

 
Envolta em seus pensamentos não percebera que a liturgia começara.

A música – Noite Feliz, Noite Feliz...

Oh Senhor Deus de Amor...

As pessoas cantavam, segurando pequeninas velas acesas nas mãos.

O ritual religioso começara...

Era dia de Natal!

Marília pediu perdão, ao amigo, ao desconhecido, ao pobre, ao rico, à Deus.

-Senhor perdoai as minhas ofensas, falava baixinho repetidas vezes.

Uma paz indescritível invadiu sua alma.

Anoiteceu, os sinos gemeu....

E a gente ficou, feliz a cantar....

Não nos deixeis cair em tentação..
.
A canção natalina, a celebração do nascimento de Cristo, que mesmo tentado cumpriu o propósito deDeus Pai entregou a vida para nos salvar.

Na liturgia foi pedido que todos se  dessem as mãos para rezar a oração que o Pai deixara.

Marília estendeu as mãos, sentiu-se tocada pelo Espírito Santo, que ao visitar seu coração lhe mostrara o quando importante era o Natal.

Livrai-nos do mal.

Livrai-nos Senhor de todo o mal – repetia baixinho.

Lentamente no meio dos fieis dirigiu-se ao altar.

Recebeu o Sacramento – Corpo de Cristo.

A mesa, coberta com a mais alva toalha, debaixo do pé de ameixa.

Saiu da Capela, sentiu no peito a alma viva, a fé restaurada.

Apressou-se no meio da multidão, buscando um transporte para se reunir com os familiares.

A filha pródiga à casa retornou.

Foi recebida com abraços, lágrimas, presentes.

Uma enorme mesa recoberta com uma toalha branca.

A nova geração dos familiares ao redor.

As crianças felizes buscavam os sapatinhos nas janelas encontravam os presentes, do mesmo modo que um dia
havia feito.

 
 Saudades.

. Abraçou um a um, agradeceu a Vida, aos familiares, aos que se foram...

Pediu para fazer a oração de agradecimento.

Todos em silêncio, ao redor da mesa recoberta com a tolha branca se levantaram, se deram as mãos.

Marília iniciou a oração...

Vamos agradecer a Deus este momento mágico em que comemoramos o Natal, o nascimento do menino Jesus.
.
- Não conseguiu continuar, as lagrimas rolaram em abundância, apagando  a vela acesa ao lado de seu prato, sentiu a presença de Cristo, do Menino Deus,  precisava comemorar.

Comemorar o nascimento do menino, comemorar os valores reavivados em seu coração.

Feliz Natal, limitava-se a repetir, Feliz Natal !

Foi abraçada pelos familiares, sentiu-se a pessoa mais feliz do mundo.

Papai Noel, vê se você tem a felicidade pra você me dar.....

Ao redor da mesa recoberta pela toalha branca, emoldurada pelas velinhas acesas, repleta de familiares  - felicidade.

O reencontro com Cristo na bucólica capela, havia lhe dado o melhor dos presentes - a redescoberta do sentido do Natal.

Quando os sinos tocaram as doze badaladas – Feliz Natal, repetia incansavelmente abraçando a todos, ao tempo em que agradecia ao Pai celestial pelo mágico momento.


Feliz Natal meus queridos, obrigada Senhor, Cristo vive em mim – disse ao abraçar a genitora com os cabelos tão braços como a toalha que guarnecia a mesa.

Ao final da prece soletrada com a alma, disse em voz alta....

Livrai-nos de todo o mal.

Livra-nos oh Pai de todo o mal...

Todos repetiram com a alma plena de paz  - Amém.

Feliz Natal!       



            (Ana Stoppa)









Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 15/12/2010
Alterado em 24/11/2012
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