Conto Natalino
“Mágico Natal - O Cristo Que Vive Em Nós” - Não, não vou comemorar - dizia para si mesma Marília, envolta nos pensamentos embaralhados, próprios das pessoas agitadas que no final das contas têm muito pouco ou quase nada para pedir e muito para agradecer. As luzes multicoloridas, os pinheiros, espírito natalino, não a tocaram. - Imagine Natal? Não, não vou comemorar - repetia no pensamento em círculos enquanto caminhava entre as ruas do movimentado centro,esbarrando nas pessoas que mais se pareciam com árvores enfeitadas de sacolas, presentes e mais presentes - felizes buscavam o retorno para o espaço sagrado – o lar. Marília achava aquilo tudo mero consumismo. Mais alguns passos se viu diante de uma pequena capela. Singela, à meia luz, algumas velas acesas pelos devotos, a imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços. O metal do salto alto dos sapatos fazia eco no chão de cimento. Sentou-se no último banco olhando para o nada, seu coração endurecera, de há muito não conjugava o verbo amar. Solidariedade, sorriso, amor ao próximo? - Nem pensar. Sentiu-se repentinamente cansada. Viu sua vida em preto e branco. Pai nosso, que estais nos céus.... Cerrou os olhos e viu o pai que estava no céu. Santificado seja o vosso nome.... Santificado ao lado de Deus pai, enxergou seu pai que há alguns anos havia voltado para a casa paterna, a eterna. Venha a nós o vosso reino... O reino da infância Marília relembrava naquele momento em que estava consigo tentando reencontrar os valores da vida. Viu-se brincado de amarelinha, esconde-esconde, casinha, bonecas. Sentia o sabor do doce de leite, o aroma da manhã primaveril, a delícia do banho de chuva, a alegria de esperar o Papai Noel. Lembrou-se que colocava os sapatinhos na janela esperando na manhã de Natal a chegada mágica do presente. Sentiu uma saudade enorme da família reunida embaixo da ameixeira em uma grande mesa improvisada, repleta de alimentos, todos felizes comemorando. Seja feita a vossa vontade.... Aos poucos chegavam mais pessoas na capela, acediam as velas, clareando gradativamente o tempo. O espaço sagrado iluminava o coração de Marília. Sentiu na face o sal das lágrimas. Pela vontade do pai, recordando a mesa da infância, via somente a toalha branca, a ameixeira carregada.. As pessoas, as pessoas, como que jogos do parque de diversões, na medida em que Marília olhava o passado via as luzes, quer dizer as pessoas, saindo. Restou a toalha branca, rebordada de saudades. Os avós, os pais, os tios, que pareciam eternos, um a um sem pedir licença, deixaram o lugar na mesa. Saudades. Assim na terra como nos céus.... Todos agora participavam de um banquete celestial. O pão nosso de cada dia.... Agora não precisavam de mais nada do mundo terreno - receberam o pão da vida. Diante das lágrimas repentinamente Marília descobriu a importância do Natal. Da ressurreição de Cristo, do reencontro na casa do Pai. Nos dai hoje... Reviveu a infância, a adolescência, reviu os familiares queridos, percebeu que naquele momento, alguém lhe dera algo precioso. Perdoai as nossas ofensas, Assim como nos perdoamos a quem nos tem ofendido. Ouviu o soar dos sinos, as luzes da igrejinha se acenderam. Viu a pequena capela repleta. Envolta em seus pensamentos não percebera que a liturgia começara. A música – Noite Feliz, Noite Feliz... Oh Senhor Deus de Amor... As pessoas cantavam, segurando pequeninas velas acesas nas mãos. O ritual religioso começara... Era dia de Natal! Marília pediu perdão, ao amigo, ao desconhecido, ao pobre, ao rico, à Deus. -Senhor perdoai as minhas ofensas, falava baixinho repetidas vezes. Uma paz indescritível invadiu sua alma. Anoiteceu, os sinos gemeu.... E a gente ficou, feliz a cantar.... Não nos deixeis cair em tentação.. . A canção natalina, a celebração do nascimento de Cristo, que mesmo tentado cumpriu o propósito deDeus Pai entregou a vida para nos salvar. Na liturgia foi pedido que todos se dessem as mãos para rezar a oração que o Pai deixara. Marília estendeu as mãos, sentiu-se tocada pelo Espírito Santo, que ao visitar seu coração lhe mostrara o quando importante era o Natal. Livrai-nos do mal. Livrai-nos Senhor de todo o mal – repetia baixinho. Lentamente no meio dos fieis dirigiu-se ao altar. Recebeu o Sacramento – Corpo de Cristo. A mesa, coberta com a mais alva toalha, debaixo do pé de ameixa. Saiu da Capela, sentiu no peito a alma viva, a fé restaurada. Apressou-se no meio da multidão, buscando um transporte para se reunir com os familiares. A filha pródiga à casa retornou. Foi recebida com abraços, lágrimas, presentes. Uma enorme mesa recoberta com uma toalha branca. A nova geração dos familiares ao redor. As crianças felizes buscavam os sapatinhos nas janelas encontravam os presentes, do mesmo modo que um dia havia feito. Saudades. . Abraçou um a um, agradeceu a Vida, aos familiares, aos que se foram... Pediu para fazer a oração de agradecimento. Todos em silêncio, ao redor da mesa recoberta com a tolha branca se levantaram, se deram as mãos. Marília iniciou a oração... Vamos agradecer a Deus este momento mágico em que comemoramos o Natal, o nascimento do menino Jesus. . - Não conseguiu continuar, as lagrimas rolaram em abundância, apagando a vela acesa ao lado de seu prato, sentiu a presença de Cristo, do Menino Deus, precisava comemorar. Comemorar o nascimento do menino, comemorar os valores reavivados em seu coração. Feliz Natal, limitava-se a repetir, Feliz Natal ! Foi abraçada pelos familiares, sentiu-se a pessoa mais feliz do mundo. Papai Noel, vê se você tem a felicidade pra você me dar..... Ao redor da mesa recoberta pela toalha branca, emoldurada pelas velinhas acesas, repleta de familiares - felicidade. O reencontro com Cristo na bucólica capela, havia lhe dado o melhor dos presentes - a redescoberta do sentido do Natal. Quando os sinos tocaram as doze badaladas – Feliz Natal, repetia incansavelmente abraçando a todos, ao tempo em que agradecia ao Pai celestial pelo mágico momento. Feliz Natal meus queridos, obrigada Senhor, Cristo vive em mim – disse ao abraçar a genitora com os cabelos tão braços como a toalha que guarnecia a mesa. Ao final da prece soletrada com a alma, disse em voz alta.... Livrai-nos de todo o mal. Livra-nos oh Pai de todo o mal... Todos repetiram com a alma plena de paz - Amém. Feliz Natal! (Ana Stoppa) Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 15/12/2010
Alterado em 24/11/2012 Copyright © 2010. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |