Marilyn1972_Sensual
Dona Isaura, uma simpática e comunicativa senhora perto de completarsetenta e cinco anos, resolveu ingressar em curso de informática.
Na juventude havia trabalhado como operária, mais tarde na área de vendas. Aposentou-se aos sessenta e três anos. A partir de então com tempo de sobra, ainda casada freqüentava os chamados bailes da terceira idade. Nada de mais, o marido não se importava. Enturmava-se com algumas amigas da mesma faixa etária para todos os sábados dançar em um baile de aposentados ao qual ela mesma chamava de “Caquinho”- uma alusão ä idade avançada dos freqüentadores. Após a aposentadoria além dos bailes não perdia as atividades disponíveis para a terceira idade, tais como aulas de hidroginástica, academia, natação. Aos setenta e quatro anos ficou viúva. As atividades, o baile, as caminhadas, algumas viagens para as redondezas eram insuficientes para preencher a solidão. Decidiu então que iria aprender a mexer com computador. Esperta rapidamente se familiarizou com o teclado. Soube na escola que poderia falar com outras pessoas “on line” Não entendeu muito bem na aula. Ao chegar a casa ligou para dos filhos para saber como era este “negócio de falar com as pessoas”, esta interessadíssima. Ficou maravilhada. No dia seguinte foi até uma loja de departamentos a fim de comprar um computador. Insistiu para que o filho efetuasse as instalações; para que a ensinasse a “falar com as pessoas”. O rapaz pensou, pensou, imaginou o tanto de falcatruas que a mãe poderia se expor, mais não teve jeito. Abre uma conta para mim – disse para o filho. No que o rapaz respondeu: - Mãe não tem cabimento a senhora com quase oitenta anos de idade querer ficar conservando com os homens. Mãe, isso é perigoso melhor a senhora ir dançar no “caquinho” -emendou. Dona Isaura, porém era boa de argumento. Não demorou conseguiu não só entender como funcionavam as salas de chat e o e mail, como teve sua conta aberta. - Fala então como a senhora quer se chamar no e mail – disse o filho. Como? Tenho que mudar de nome? – Indagou. Sim pensa um nome que a senhora gostaria de ter se não fosse Isaura. Pensou, pensou.... - Quero ser Marilyn – disse para o filho. - Mais mãe que nome mais esquisito, é por causa da atriz? - Escolha um mais simples. Quero este simples já tenho o meu – disse Dona Isaura. Ao acessar a disponibilidade do apelido, o filho verificou que somente um estava disponível: - marilyn1972_sensual@........ Mãe, este não dá - pensarão que a senhora tem trinta e poucos anos - advertiu o filho. Coloca esse ai e não reclama, você conversa demais, põe ai e pronto, já irritada assim falou com o rapaz. De posse do e mail, no dia seguinte quando da aula da aula foi clara ao dirigir-se para a professora. - Só quero aprender a conversar com os outros, nada de fazer correspondência, tabelas, desenhos. Ensina-me a conversar e pronto – pediu. O curso, voltado para a terceira idade permitia a mudança do foco de acordo com o interesse do aluno. Uma semana depois, Dona Isaura igual a uma adolescente entrou pela primeira vez na sala de bate-papo. Antes, porém, observando os números do apelido, teve uma idéia genial – pegou a foto de uma das filhas – uma morena de cabelos longos esguia, jovial perto de completar trinta e oito anos. Dona Isaura decidiu que incorporaria o personagem. Escolheu a sala destinada ä faixa etária 30/40 anos. Ao entrar com o Nick de marilyn1972_sensual, foi convidada por todos para teclar. Estava maravilhada, sentiu-se a própria mulher de trinta, embora perto dos oitenta. Dos apelidos que a chamaram para teclar - conta que eram quinze os pretendentes, escolheu o “Anjo Solitário.” O interlocutor lançou a coleção de perguntas, as quais Dona Isaura respondia com uma desenvoltura admirável. - Tecla de onde? Dona Isaura morava na verdade na periferia em um minúsculo apartamento. - Sou da Capital – Jardins, escreveu para o Anjo. - Casada? - Não solteira. - Bonito Nick. - Ah sim, escolhi para homenagear a Marilyn Monroe. EM seguida cravou dezenas de perguntas no Anjo. - E você casado? - Não, divorciado? - Quantos anos você tem? - Trinta e quatro – digitou Anjo. - O que você faz? Anjo estava maravilhado com o apelido de Isaura, meio que seduzido relacionando o Nick com a esfuziante atriz. - Sou Profissional liberal. Dona Isaura nem sabia o que era isso, mas continuou empolgada. - Posso saber um pouquinho de você doçura – escreveu Anjo para Marilyn. - Claro, pode perguntar. - Qual a sua idade? Dona Isaura não hesitou, mandou a mentira na tela sem a menor cerimônia. - Minha idade esta ai no meu apelido, completando. - Tem problema eu ser um pouco mais velha – escreveu para Anjo. - Imagine doçura, quatro anos não são nada! Estou adorando teclar contigo. Na verdade a diferença não era de quatro anos coisa nenhuma, Dona Isaura estava com setenta e oito anos, Anjo com trinta e quatro. Logo, quarenta e quatro anos de diferença, ou simplificando duas gerações. - Doçura, escreveu anjo na tela de Isaura, o que você gosta de fazer para se divertir? Lógico que Isaura não falou do “Caquinho”, dos exercícios para a terceira idade, das aulas de hidroginástica. - Anjo escreveu: - Cadê você doçura. - Espere telefone – escreveu para Anjo. Que nada ela estava pensando o que iria dizer. De repente uma idéia brilhante. Quando menina vivia andando ä cavalo por entre as terras da fazenda de seu pai. Aprendeu a cavalgar, a conhecer as raças. Aos dez anos de idade ganhou uma enxada para aprender a lidar com a terra. O contato com a natureza permitiu conhecer muitas espécies de plantas. Não deu outra. - Anjo???? - Oi Doçura. - Me perdoe, estava falando com o gerente do banco – disse Dona Isaura a fim de justificar a demora. - Imagine Doçura estou adorando falar contigo - escreveu Anjo. - O que você faz na vida? - Dona Isaura incorporada escreveu: Sou paisagista. - Anjo que era interessado pelos temas ligados ao meio ambiente ficou fascinado. - Meus parabéns Doçura, quer dizer que você é uma adefensora da natureza? - Sim, claro. Eu adoro o verde - arrematou. Cada vez mais Anjo se interessava por Marilyn. - Doçura, o que você gosta de fazer para se divertir? - Sou Amazona, adoro hipismo. Anjo ficou maravilhado, pensou haver encontrado a concha com a pérola no meio de um oceano contendo milhares absolutamente vazias. - Dona Isaura, para não dar espaço para perguntas ou detalhes, lançou na telas outra série de perguntas para Anjo. - Posso saber como você é? - Claro! Doçura - escreveu Anjo cada vez mais interessado. - Sou moreno claro, olhos e cabelos negros, 1,88, de altura, 88 quilos. Adoro esportes radicais, barzinhos, leitura, cinema, teatro e praia. Agora Doçura - escreveu Anjo na tela. Posso saber de você? Marilyn, ou melhor, Dona Isaura, escreveu sem a menor piedade. Gostando do clima que se instalara, construiu de imediato o personagem na medida dos sonhos de Anjo. - Sou morena clara, tenho os cabelos lisos e compridos, 1,65 de altura, olhos esverdeados, 54 quilos. Na verdade Dona Isaura tinha pouco mais de 1,50, passava dos 80 kilos, cabelos castanhos escuros enrolados, usava óculos bifocal e próteses dentárias – inferior e superior. Por orientação do ortopedista, em razão da osteoporose usava uma bengala de apoio para se locomover quando precisava caminhar longos trechos. Em casa não tinha a menor vaidade – vestia camiseta das antigas propagandas políticas - as suas peças preferidas, as quais completava com a bermudas improvisadas, e chinelos. Nada mais. Costumava se arrumar somente no dia do “Caquinho”. Anjo ficou pasmo com a descrição que apareceu em sua tela. - Doçura, você é uma Deusa! - Tens “MSN” ? -??? Cadê você Doçura? - Calma Anjo, estou acessando meu sistema - disse. - Sistema? Indagou Anjo. - Quer dizer o meu MSN. Dona Isaura passou para Anjo o MSN, em seguida percebeu que estava “on line” Quando Anjo viu a foto de Dona Isaura, (que na verdade era a de sua filha), escreveu na tela. - Doçura, você é o meu número, como você é linda!!! Dona Isaura amou o elogio, sentiu-se feliz e fortalecida para continuar a brincadeira. - Posso te pedir somente uma coisa querida? - Claro Anjo, pode pedir. - Posso saber como você está vestida? - Sim, estou em casa e de férias, visto uma roupinha básica, acabei de voltar da academia - escreveu para Anjo. Na verdade Dona Isaura vestia camiseta de propaganda política, uma bermuda surrada e nada mais. - Bem Anjo, disse - estou usando um shortinho de jeans que ganhei de uma prima no aniversário e uma blusinha rosa de alça, colada ( não gosto das mais largas). Anjo encheu a tela de flores virtuais, beijinhos, corações e sorrisos. Completou o agrado colocando uma serie de fotos que havia feito para um catálogo de vendas. Anjo era lindo! Anjo pediu mais fotos de Marilyn. - Amanha coloco, disse - está no outro computador. Dona Isaura percebeu Anjo apaixonado, entregue, totalmente envolvido com a descrição do físico, as aptidões e a foto de Marilyn. Foram quase três horas de bate-papo. Marcaram o horário para o dia seguinte. Os encontros virtuais aconteceram por mais de três meses. Dona Isaura caçava as fotos da filha para alimentar a ilusão do pobre rapaz. Até que um dia veio a pergunta. - Doçura, você tem câmera? - Não tenho Anjo, sou reservada, não me exponho deste modo – disse Dona Isaura. Anjo estava apaixonado, enviava poemas, músicas, declaração de amor pediu em casamento, fazia promessas e tudo mais. Um belo dia deu o ultimato em Marilyn, ou melhor, Dona Isaura. - Doçura, eu não agüento mais, vamos marcar para nos conhecermos, você é a mulher da minha vida! Preciso te ver - arrematou Anjo apaixonado. Dona Isaura percebeu que não poderia continuar com a brincadeira, ( não com Anjo). Anjo - agradeço seu carinho, os momentos felizes que juntos passamos, mais preciso te dizer que meu antigo namorado voltou. - Nem gosto muito dele - escolha dos meus pais. - Preciso assumir, me perdoe. Esta foi a lacônica despedida de Marilyn para Anjo. Ao terminar o diálogo, simplesmente excluiu Anjo. Gostou da brincadeira, encontrara um modo de afastar a solidão. Desde então – passados cinco anos do primeiro contato, Dona Isaura hoje com mais de oitenta anos diariamente passeia nas salas de bate-papo. Quando a noite cai, se esquece do pouco mais de 1,50 de altura, dos 80 quilos que pesa, dos óculos garrafais e as dentaduras. Vestida de camiseta das antigas propagandas política, a bermuda improvisada e chinelos, vai para o computador. Incorpora Marilyn, a mulher sensual morena clara, cabelos lisos e compridos, 1,65 de altura, olhos esverdeados, 54 quilos. Vez ou outra telefona para a filha que reside em outro estado. Com desculpa que sente saudades pede cópias das fotos da moça – as quais insere no MSN para dar vida ao personagem. Tantos apaixonados passaram por sua tela nos últimos anos que perdeu a conta. Hoje em razão da osteoporose que não a deixa caminhar como antes, passa horas e horas on line vivendo Marylin – A sensual amazona, defensora do meio ambiente, jovial e apaixonada pela vida. (Ana Stoppa)
Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 07/02/2011
Alterado em 29/06/2011 Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |