Ana Stoppa - Escritas, Versos & Reversos

Se não puder alcançar as estrelas agradeça a Deus por vê-las. (Ana Stoppa)

Textos


         Lelé, O Navegador dos Sonhos.

Lelé nasceu na correnteza do São Francisco, época de seca. Água – apenas um fio de vida...

Lelé nadava com dificuldade, buscando oxigênio, água pura, alimentos, para assim sobreviver...

Lelé era um peixinho sonhador; quando o Sol brilhava no outro lado do mundo, no Japão, Lelé adormecia e sonhava...
Sonhava nadando em águas claras, correntes suave onde não haviam redes, arrastão, anzóis, poluição e pescadores...

Então feliz, Lelé prosseguia em frente ao cardume, indicando aos companheiros de aventura, o rumo do Mar.

Sim, pois o sonho de Lelé foi sempre viver no Mar!
Lelé queria conhecer a plenitude do Oceano, os mistérios que abrigam as profundezas, os históricos tesouros naufragados em séculos passados...

Ainda pensava:

- Vou ficar amigo das estrelas do mar, estudar toda a vegetação aquática, os corais, vou conhecer outros povos, isto é, outro peixes...

O sonho de Lelé era colorido como o Arco-Íris, detalhando igualzinho a um filme em câmera lenta...

Anoiteceu.

Num sono profundo, Lelé rumou para o Mar.
Mesmo em sonho, o cardume que o acompanhava ficou receoso, permanecendo no São Francisco.

Lelé rumou sozinho, em seu mágico sonho, para o Oceano!
Nadou com agilidade, a correnteza embalava seu corpo, suas barbatanas.

Seus olhinhos arregalados não perdiam nem um pouquinho a vivencia da felicidade sonhada...

Lelé nadou... nadou... nadou..., e chegou no Mar!
As portas de entrada eram formadas por um arco de corais iluminados com luzes dos peixes elétricos.

As pequeninas conchas com pérolas à mostra, reluzentes abriram-se em sua chegada e uma maravilhosa evolução de cavalos marinhos executava coreografias, saudando a chegada de Lelé.
Uma cerimônia de peixes-espadas fez as honras da casa, melhor dizendo, do Mar e a Sereia Amaralina, que naquele instante despertava, entoou o mais belo e melodioso canto...

Lelé vibrou de alegria.

- Que sonho esplandecente a noite lhe trouxera!
Que pena!

Aquela aventura em câmera lenta, que somente Lelé era capaz de vivenciar, terminou ao despertar...

A sereia Amaralina calou o canto, os cavalos marinhos findaram a seção de malabarismos, o grande portal de corais rangeu – sinal de que o sonho acabara!

As conchas, em movimentos harmônicos, fecharam-se todas ao mesmo tempo, as espadas baixaram, os peixes elétricos adormeceram...
Lelé despertou!

Hoje, ele continua vivendo no Rio São Francisco, e de vez em quando falta o oxigênio, a água diminui, surgem os pescadores, anzóis, redes e poluição...

Porém Lelé é forte, pois como um peixinho inteligente, aprendeu desde cedo a ser assim...

Por isso, cada vez que surgirem os contratempos no Rio São Francisco, ele age com firmeza e a tudo supera...
A noite, quando adormece exausto, sonha com a Sereia Amaralina, cantando uma canção de ninar somente para ele...

Assim, Lelé é conhecido como o Navegador dos Sonhos, pois todas as noites há um cerimonial no Mar a sua espera.
Quem sabe um dia, ele não precise mais voltar para o Rio São Francisco e feliz, passe a viver em liberdade no Oceano, nos braços da Sereia Amaralina, cantando uma canção de ninar feita somente para ele!

( Agraciado com o 1. Lugar no Concurso de Literatura Infantil promovido Secretaria de Educação e Cultura de Barueri/SP, 27/02/1991).


Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 07/02/2011
Alterado em 02/04/2011
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