Lelé, O Navegador dos Sonhos.
Lelé nasceu na correnteza do São Francisco, época de seca. Água – apenas um fio de vida... Lelé nadava com dificuldade, buscando oxigênio, água pura, alimentos, para assim sobreviver... Lelé era um peixinho sonhador; quando o Sol brilhava no outro lado do mundo, no Japão, Lelé adormecia e sonhava... Sonhava nadando em águas claras, correntes suave onde não haviam redes, arrastão, anzóis, poluição e pescadores... Então feliz, Lelé prosseguia em frente ao cardume, indicando aos companheiros de aventura, o rumo do Mar. Sim, pois o sonho de Lelé foi sempre viver no Mar! Lelé queria conhecer a plenitude do Oceano, os mistérios que abrigam as profundezas, os históricos tesouros naufragados em séculos passados... Ainda pensava: - Vou ficar amigo das estrelas do mar, estudar toda a vegetação aquática, os corais, vou conhecer outros povos, isto é, outro peixes... O sonho de Lelé era colorido como o Arco-Íris, detalhando igualzinho a um filme em câmera lenta... Anoiteceu. Num sono profundo, Lelé rumou para o Mar. Mesmo em sonho, o cardume que o acompanhava ficou receoso, permanecendo no São Francisco. Lelé rumou sozinho, em seu mágico sonho, para o Oceano! Nadou com agilidade, a correnteza embalava seu corpo, suas barbatanas. Seus olhinhos arregalados não perdiam nem um pouquinho a vivencia da felicidade sonhada... Lelé nadou... nadou... nadou..., e chegou no Mar! As portas de entrada eram formadas por um arco de corais iluminados com luzes dos peixes elétricos. As pequeninas conchas com pérolas à mostra, reluzentes abriram-se em sua chegada e uma maravilhosa evolução de cavalos marinhos executava coreografias, saudando a chegada de Lelé. Uma cerimônia de peixes-espadas fez as honras da casa, melhor dizendo, do Mar e a Sereia Amaralina, que naquele instante despertava, entoou o mais belo e melodioso canto... Lelé vibrou de alegria. - Que sonho esplandecente a noite lhe trouxera! Que pena! Aquela aventura em câmera lenta, que somente Lelé era capaz de vivenciar, terminou ao despertar... A sereia Amaralina calou o canto, os cavalos marinhos findaram a seção de malabarismos, o grande portal de corais rangeu – sinal de que o sonho acabara! As conchas, em movimentos harmônicos, fecharam-se todas ao mesmo tempo, as espadas baixaram, os peixes elétricos adormeceram... Lelé despertou! Hoje, ele continua vivendo no Rio São Francisco, e de vez em quando falta o oxigênio, a água diminui, surgem os pescadores, anzóis, redes e poluição... Porém Lelé é forte, pois como um peixinho inteligente, aprendeu desde cedo a ser assim... Por isso, cada vez que surgirem os contratempos no Rio São Francisco, ele age com firmeza e a tudo supera... A noite, quando adormece exausto, sonha com a Sereia Amaralina, cantando uma canção de ninar somente para ele... Assim, Lelé é conhecido como o Navegador dos Sonhos, pois todas as noites há um cerimonial no Mar a sua espera. Quem sabe um dia, ele não precise mais voltar para o Rio São Francisco e feliz, passe a viver em liberdade no Oceano, nos braços da Sereia Amaralina, cantando uma canção de ninar feita somente para ele! ( Agraciado com o 1. Lugar no Concurso de Literatura Infantil promovido Secretaria de Educação e Cultura de Barueri/SP, 27/02/1991). Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 07/02/2011
Alterado em 02/04/2011 Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |