Ana Stoppa - Escritas, Versos & Reversos

Se não puder alcançar as estrelas agradeça a Deus por vê-las. (Ana Stoppa)

Textos

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Com Que Roupa Eu Vou


E pensar que algumas décadas atrás a maioria das
pessoas possuíam 
 duas mudas de roupas – três no máximo.

No inverno um Deus nos acuda – a  secadora
improvisada atrás da geladeira
 mal dava conta.

Roupas úmidas ou queimadas pelo pesado ferro
de passar – Assim  se vestiam o
s menos abastados.

- Menina!

- Isso é roupa ?

- Indagava a  autoritária Chefe do Departamento
Pessoal para a jovem que a muito custo
conseguira
sair da linha de produção  aos dezoito anos para 
a carreira 
administrativa.

A indagação ocorria invariavelmente quando havia
público.


Calada a jovem sentindo-se profundamente
humilhada  nada dizia.


Aprendera desde cedo diante da luta do cotidiano
que a afronta fecharia portas e que situações hilárias
como aquelas a não mereciam respostas.


Do ato do efêmero e ilusório poder, a ilustre
superiora emendava:


- Menina, nem minha empregada  se veste assim!

- Você não sabe se vestir?

Como dizer para a opressora que aquelas roupas
eram as únicas – exatas três trocas.


A humilhação era quase que diária,  mascarada de brincadeira, ou como se dizia na época no vernáculo popular -  o sarro.

Decorridos os três meses de experiência  foi efetivada,
com a garantia do salário comprou algumas  roupas, as mais baratas  – de seu salário saia parte da despesa da família e  o custo dos estudos.


Tanto ouvira osinsultos que estes  a partir de certo
tempo nada mais lhes diziam.


Fez carreira – aos vinte e cinco anos, quando se desligou para algo melhor ocupava o cargo de Encarregada de  Crédito e Cobrança.

Vestia-se de forma impecável.

Quanto a opressora, soube anos mais tarde que ficara
viúva duas vezes  quase que simultaneamente -  perdera
o marido, cerca de três meses após....o amante.


A grosseria a que fora exposta ensinou-lhe de forma
clara como não deve tratar as pessoas.


Assim pauta  a conduta -  mesmo quando as
lembranças das humilhações teimam e se fazer
presentes.



(Ana Stoppa, inspiração poética)



Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 31/03/2012
Alterado em 06/06/2012


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