As Sementes Da Felicidade
Ana Stoppa
Os mais antigos moradores da Cidade da Paz contam que há muitas luas viveu no lugar uma família que tinha uma missão muito especial – a de semear a felicidade.
Eram seis pessoas – diz Antonio Prudêncio para o neto Enzo - menino de oito anos, acomodado na rede de algodão cru sustentada em dois troncos de guatambu fincados no quintal de terra batida, nos fundos da casa.
O menino arregala os olhos e pergunta:
Vovô, mais a felicidade nasce de uma semente?
- Calma meu neto, disse pacientemente o avô - esta história escutei do pai do meu pai, quando eu tinha a sua idade.
É mesmo vovô?
- Sim!
O vovô contará para você como semeavam a felicidade.
Os agricultores que executavam esta importante missão era uma família composta de seis pessoas com nomes bem diferentes, os pais eram o Amor e a Verdade.
O casal tinha quatro filhos - a Bondade, a Simplicidade, o Respeito e o Perdão
- Mas vovô.... - interrompeu o menino.
Estou aprendendo tantas coisas na escola, estes nomes são de gente, diz o menino com o olhar brilhando de curiosidade.
- Espere Enzo!
Deixa o vovô te contar...
A família era unida, vivia ajudando o próximo sem nada pedir em troca, apenas pelo fato de fazer o bem.
O pai acordava cedo para o árduo trabalho de preparar a terra.
- Terra vovô?
Sim a terra para plantar as sementes da felicidade!
Como a família trabalhava sempre unida, logo após nascer o Sol todos seguia, contentes para a lida diária.
Os pais preparavam as covas com cuidado, acrescentavam nutrientes, as crianças se encarregavam de depositar as sementes.
Nascia cada muda linda Enzo!
Respeito, o filho mais velho ensinava pacientemente para todos como deveriam tratar as frágeis plantinhas para que se tornassem frondosas árvores.
Simplicidade, menina tímida, talentosa e educada demonstrava paciência aos que a procuravam querendo saber sobre as sementes, os cuidados.
Delicadamente dizia:
- Imagine... As sementes da felicidade para germinar necessitam unicamente da água da pureza e o adubo da fraternidade, nada mais.
Assim agindo terão as mais lindas árvores!
A Bondade, gêmea do Perdão era a mais serena de todos.
Ficava horas falando para os moradores de como era importante ter uma árvore daquelas no quintal.
- Nossa vovô, que história linda!
Conta agora do Perdão vovô - o que o Perdão fazia?
O Perdão...
- Ah o Perdão meu neto, era um rapaz despojado, estudioso, amigo, dono de um coração enorme.
Não tinha um trabalho determinado não, era um “faz tudo”.
Dizem que ele ajudava os demais membros da família e a população no que fosse preciso.
Um dia plantava, outro cuidava, outro ensinava e assim diante...
- Vovô, então existe as sementes da felicidade - perguntou o menino encantado com a história.
Meu querido neto – prosseguiu pacientemente...
Por um bom tempo esta família semeou a felicidade para nas primaveras seguintes entregas as mudas para os moradores da cidade.
As pessoas esperavam anos para receber uma delas, reservavam o espaço quintal, preparavam os canteiros ou vasos, seguiam todas as orientações, era muito importante ter uma árvore da felicidade no quinta de casa!
Na medida em que cresciam nas propriedades era visível na expressão de alegria e paz dos moradores.
No entanto, passado algum tempo, a cidade recebeu novos moradores que também se propunham a fornecer as sementes da diziam plantar a mesma árvore.
Não demorou muito para se espalhar a notícia, com uma diferença – as novas mudas cresceriam rápido, não precisariam de cuidados, se reproduziam com facilidade.
Seria o fim das filas de espera...
- Vovô!
Diz meu neto - falou com doçura o seu Antônio.
- Como eram os nomes das pessoas da nova família?
Não eram bonitos, mais vou te dizer por que faz parte da história – emendou o bondoso senhor.
Eram quatro pessoas que viviam juntas mais não se entendiam – a Inveja, o Orgulho, a Arrogância e a Preguiça.
No quintal da casa deles subitamente a plantação se tornou era abundante...
Nem era preciso pedir!
Os moradores passavam, pegavam quantas mudas quisessem, que na aparência eram idênticas as cultivadas pela família do bem.
Rapidamente em todos os quintais cresceram as novas plantas!
Tantas mudas foram distribuídas que a primeira família...
Aquela que o Pai era o Amor e mãe a Verdade vovô?
- Sim meu querido, aquela...
O que aconteceu?
- Acabaram se mudando para outra localidade, pois teriam que dar continuidade à missão que Deus lhes confiara.
Mais e as árvores vovô, conta!
- As mudas entregues com muita facilidade pelos estranhos moradores cresceram mirradas, troncos cheios de espinhos, pouca sombra.
Ninguém conseguia ficar por perto, nem os pássaros.
As famílias ficaram tristes, aos poucos arrancaram as novas árvores - mais tarde foram identificadas como pragas.
Quando buscaram as mudas verdadeiras, souberam que os bondosos agricultores havia se mudado para bem distante.
Tornou-se impossível conseguir sementes ou mudas da felicidade, quer dizer Enzo, da árvore da felicidade.
Descoberto o engano, a população desesperada passou a procurar entre os moradores – os que possuíam a árvore verdadeira, uma muda, semente ou galho para plantar, quando ficavam sabendo que não havia como compartilhar,, que para reproduzir seria necessário o auxílio dos primeiros agricultores – o Amor, a Verdade, o Perdão, a Simplicidade, a Bondade e o Respeito.
Então meu neto, os propagadores das pragas quando descobertos acabaram expulsos do lugar.
- Mais e as sementes vovô?
Dizem que após muitos pedidos os moradores receberam a visita do “faz tudo” – o Perdão adiantando que a família estaria de volta para reflorestar o lugar, mais para que isso acontecesse os moradores deveriam limpar mais que a terra, os quintais, os vasos, casas ou canteiros, deveriam preparar os corações!.
- Os corações vovô?
Sim meu neto, esta história tem um final lindo!
A partir daquele momento Enzo, através daquela família plena de virtudes Deus passou a plantar as sementes da felicidade no coração de cada pessoa, porém impôs uma condição:
- Somente germinariam se cada um que as recebesse pautassem suas vidas no Amor, na Verdade, na Simplicidade, no Respeito, na Bondade e no Perdão! Ana Maria Stoppa.