Em Busca De Um Porto. Fato é que ninguém, por mais autossuficiente que seja é capaz de viver sozinho. Como a embarcação necessita do cais para aportar, o ser humano carece de acolhimento, atenção, carinho, ombro amigo. Não pense ser fácil encontrar! Definitivamente as buscas se revestem de angústia, opressão e desmedida solidão. Quando a alma busca o conforto do porto amigo já esgotou todas as reservas de paciência, da compreensão, da esperança e do perdão. Carente tal qual o um solitário barco completamente à deriva experimenta exageradas doses de abandono. Abre as janelas – aquelas emperradas pelo pranto. Vê o cotidiano nublado, as manhãs entediantes, as noites intermináveis. Aninha-se em si mesma tentando aos trancos reconstruir a paz perdida diante do arsenal de desilusões. Projeta-se à revelia para um mundo que não a compreende. E pensar que tão pouco lhe bastaria para recobrar a esperança. Não há tempo. O tempo que veloz subtrai o existir – este mesmo. Silenciosa veste a máscara da alegria para ocultar a nostalgia enquanto tateia espinhosos caminhos na desenfreada busca do carinho. No jardim das desilusões vê brotar as híbridas flores do interesse, os cactos do descaso, a relva da prepotência, os arbustos da arrogância. E pensar que tão pouco bastaria para recobrar a esperança. O sofrimento ensina a alma desaprender a pedir. De início o ácido gosto das perdas deixam-na atordoada. Empurrada pelo amanhã, resiste. Tenta se reerguer. Sonha com valores que de há muito não experimenta. - O amor do ser humano pelo que ele é e não pelo que tem. Não encontra respostas. Atraca aqui e acolá a regata de sentimentos para prematuramente içar as amarfanhadas velas das partidas compulsórias, sem ao menos dizer adeus. Infinitas vezes as cenas se repetem, e com isso a cada dia torna-se raro o encontro do porto seguro. Quando cerram as cortinas do cansaço a alma se vê alagada pelas águas do salgado mar dos interesses. Os portos desaparecem, o mar da rotina se mostra agitado, a vazio ganha mais e mais espaço onde outrora a serenidade habitava. Não bastasse tantos dissabores mostra-se imprescindível ainda que tardiamente se aprender a dizer não, a não confiar em demasia , a driblar a rota do porto da solidão, a amadurecer os verdes sonhos, a cerrar as janelas das expectativas. E pensar que tão pouco bastaria para recobrar a esperança. (Ana Stoppa) Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 23/06/2012
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