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A repentina ascensão profissional proporcionara-lhe muitas benesses. Adulação a primeira delas – ficou elegante, bonito, refinado, imbatível. Resultado imediato do vil metal para os adeptos do ter. Carro do ano, viagens, mudança repentina do estilo. Tornaram-no aparentemente irreconhecível. O ditado popular, no sentido de que mais do que quinze minutos de glória para o ser humano acaba por prejudicá-lo, vestiu como uma luva o novo rico. Dentre outras conquistas nesta nova etapa achou-se no direito de ser absolutamente livre. Descartou esposa, filhos, até o nome do cachorro de estimação - o Joca, adotado há mais de dez anos demonstrava ter esquecido. Se existe algo tremendamente justo este é o tempo, que indiferente às posses segue o curso rumo ao caminho de volta – destino de todos neste existir efêmero. Já havia passado da quinta década de vida quando resolveu voltar à Universidade. Como que se nos bancos acadêmicos ensinassem a viver em sintonia com os preceitos ensinados pelo Criador. O retorno deixou-o ainda mais deslumbrado. Assumiu o Diretório Acadêmico, tornou-se uma espécie de guru para os jovens - a bola da vez. Todos o achavam o máximo, pois aprendera como ninguém a usar a máscara da simplicidade. Passava horas após o término das aulas compartilhando o conhecimento. A família ia muito bem, obrigada. Passou a chegar tarde, tornou-se monossilábico. O pouco tempo que ficava em casa isolava-se à portas fechadas no computador sob o pretexto de que precisava estudar. Os filhos quase não o viam. Coube à esposa suprir a ausência cada vez mais amiúde, ainda que à revelia. Isto porque além do trabalho, continuava com a responsabilidade financeira. A nova condição não lhe beneficiara. Narcisista passava horas no demorado banho, como se cada dia houvesse uma festa para comparecer. Passou a chegar tarde, a ocupar o canto da cama sem dizer uma palavra. No segundo semestre, situação insuportável - derrocada da família por conta da indiferença. Mais de uma vez dormiu fora de casa. Retornava no dia seguinte como se nada houvesse acontecido. Estava apaixonado – confidenciara a um amigo. Sentia-se jovem, vigoroso, a vida transbordando por todos os poros. Dias mais tarde a aventura sentenciou o que seria em breve espaço de tempo a razão das lágrimas. No outono, chegou repentinamente mais cedo em casa, sexta feira. - Mariana quero falar com você. A esposa estranhou a busca do diálogo, há tanto tempo não se falavam. - Mariana, quero a separação! - Alfredo, vamos conversar. Estamos juntos há tantos anos, nosso casamento foi desejado, nós nos amamos estamos apenas atravessando uma fase, não descarte a nossa felicidade deste modo. - Mariana, estou saindo de casa agora ! Amanhã retorno para pegar os meus pertences. Mariana estática perdeu a fala. Alfredo sequer mencionou o motivo, falava como se fossem apenas os dois, seuqer citou os filhos. Mais do que isso, quando Mariana tentou entender indagando se Alfredo desistira ouviu simplesmente... - Perfeitamente arrume um advogado marque o dia que eu assino... Em menos de dois meses Mariana deixou a casa, acordo compulsório. Logo soube através da “rádio notícias alheias” , que dois dias após sua saída Alfredo levara "a outra" para casa. Mariana entregou-se ao trabalho a mais não poder para superar o rompimento abrupto - mais de três décadas de união. Paulatinamente acostumou-se com a ideia, deu a volta por cima, redescobriu o amor próprio. Comentário geral na região sobre a péssima “troca”. Alfredo ao despertar do soro ofídico da paixão percebera o grande equívoco. Até porque não se constrói felicidade sobre a infelicidade do semelhante. Em outras palavras, o abandono afetivo dos filhos e a dispensa da esposa, resultaram em grande sofrimento. Enquanto isso Alfredo desfilava em público com seu “novo amor”. Não demorou a realidade veio à tona, os escritos nas páginas do livro da vida jamais se apagam, tampouco se consegue arrancar ou descartar. Alfredo percebera o equívoco, descobrira o quando amava a esposa, o quanto sua família era importante. Percebera o mal fizera para si mesmo. Viu-se repentinamente cercado de todo conforto material, altas somas bancárias, viagens, passeios, finais de semana no campo. Aquilo com o decorrer do tempo perdeu por completo o significado. A outrora súbita paixão passou a incomodá-lo. Definitivamente vivera apenas uma aventura na qual fora “laçado”. O vazio acompanhado da angústia imensa tomou conta de todos os espaços da casa que outrora abrigava sua família. Alucinado ouvia a voz da esposa, o filho que simplesmente abandonara tocando guitarra, o latido do Joca. Cerrava os olhos via o sorriso da esposa, a generosidade, o alto astral. Lágrimas silenciosas rolavam. Delirava sentindo o perfume dela, o aroma no leito, o gosto do beijo. Ao abrir os olhos lá estava “a outra”. Para alguns amigos admitiu o erro. Envelheceu anos em pouco tempo. Armou-se de coragem saiu em busca do grande amor de sua vida. Pediu perdão, implorou a volta, assumiu o erro. Mariana pediu um tempo, a dor a fortalecera. Ponderou. Na semana seguinte decidira reconstruir a felicidade, pois amava-o. Depois, ele estava tão mudado... Enfrentou todos os medos, resolvera dar-se uma segunda chance. Marcaram o encontro. Ao chegar Alfredo mal a cumprimentou. - Alfredo, o que houve? Você me parece tão estranho... - Mariana fica o dito por não dito, preciso esquecer você! - Como Alfredo? Mariana jamais deixarei de te amar, peço a Deus todos os dias para que me ensine a te esquecer, mais meu coração diz ser impossível. Irene adoeceu, não posso abandoná-la, vivemos uma relação de companheirismo, nada mais. Não deu tempo para o café. Mariana emudeceu, sentiu o chão lhe faltar. Agarrou-se no amor próprio para não desmontar. Não deu tempo para despedidas, até porque esta jamais existiu entre ambos. Ao deixar o recinto com os olhos rasos d'água e a voz embargada Alfredo beijou-a na face, no lado esquerdo o mesmo do primeiro beijo, para balbuciar em seguida... Mariana, eu te amo! (Ana Stoppa) Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 21/08/2012
Alterado em 21/08/2012 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |