Ana Stoppa - Escritas, Versos & Reversos

Se não puder alcançar as estrelas agradeça a Deus por vê-las. (Ana Stoppa)

Textos


Conto de Natal - Pegadas na Neve

Dentro de poucas horas seria comemorado o aniversário do filho de Deus, Jesus.  As casas iluminadas com  a fumaça saindo pelas lareiras noticiavam a reunião das famílias para festejar
a data magna da cristandade.

O inverno rigoroso era amenizado pelo calor
humano acentuado na época do santo Natal.

Na rua de casas luxuosas podia se ver através
das cortinas entreabertas as  grandes árvores de
Natal piscando as luzinhas, rodeada de presentes  adornadas de bolas coloridas,  chocolates, guloseimas, cordões dourados arrematando  o ponteiro no formato da estrela de Belém.

Nono  Antonino recordou-se de uma  bonita historia  que havia escutado quando criança, muito apropriada para o dia de Natal, decidiu contá-la para o neto  de
oito anos,  Pietro, um menino apaixonado por livros, histórias e contos.

 Todas as vezes que visitava o avô,  o menino  logo pedia uma das encantadoras histórias que o Seu Antonino sabia contar como  ninguém.

Pietro viajava no mundo encantado de fadas,
duendes, árvores falantes, castelos, princesas,
reis, rainhas, guerreiros e santos.

- Sua benção nono!  Hoje a mamãe disse que vamos dormir aqui!

Nono, antes de irmos na  sata issa, conta uma história!

Oh meu neto, que saudades, o nono estava mesmo pensando em uma bonita história, ja pediu a benção apra a vovó Zulmira, cumprimentou a Antonella?

Claro nono!

 - Quero a história nono...

- Sim meu neto, sente-se aqui perto do nono,  esta história aconteceu no Sul da Itália perto de uma cidade conhecida como cidade da Paz, onde desde sempre
as pessoas são amáveis, solidárias e  tementes a Deus.

Quando meu pai era menino, por volta do ano de 
1890 vivia em Martina Franca, o nome da cidade
onde no alto da Colina está a imagem do  Santo Redentor, e no centro a antiga Catedral construida
em homenagem a São Martinho.

- São Martino nono, quem foi São Martino?

- Há  muitos  séculos, na época do império romano...

- Império nono?

Sim  meu pequeno Pietro, época em que haviam reis, rainhas, príncipes e princesas de verdade,   o império romano dominava  o mundo, isto faz muitos séculos, um dia o nono contará para você a história, mas hoje, como estamos na véspera de Natal o nono quer  contar  esta história  que aconteceu perto da cidade
da paz, um vilarejo de casas muito luxuosas.

- Mas quem foi São Martino nono?

- Pietro, no século IV um jovem nascido em Roma 
de nome Martino, filho de um importante comandante do exército romano, com apenas 15 anos de idade 
foi pelo seu pai alistado na cavalaria da tropa imperial contra a sua vontade enviado para a cidade de Galia, hoje França. Com isso  pretendia afastá-lo da igreja, isto porque, a família  cultuava  os deuses mitológicos venerados pelo império romano.

-  Mas Deus não é único nono?

Sim Pietro, mas  o nono está falando  de uma época antes do nascimento de Jesus, o filho de Deus,
quando as pessoas seguiam uma religião politeísta, este nome complicado quer dizer muitos deuses, eles, os romanos, assim como os gregos idolatravam
muitos deuses, que apesar de imortais se  identificavam vários comportamentos dos seres humanos, como a  maldade, a bondade,  a força,
 a fraqueza, a sabedoria...

Estes deuses, segundo a crença, apesar de imortais, possuíam características, comportamento e atitudes semelhantes aos seres humanos,  e tinham o poder de decidir sobre a vida dos mortais.

Eram muitos Deuses, Pietro. E o  mais importante  deles, segundo a crença era   Netuno, o Deus do
mar, que na mitologia grega tem o nome de Posseidon.

- Mas nono e São Martinho, indagava o neto com os olhos brilhando e uma vontade incrível de escutar a história que o Seu Antonino ao contar sabia como ninguém passar as emoções através das bondosas palavras.

Martinho aos dez anos de idade se inscreveu da primeira comunhão nas aulas de catecismo, isso
Pietro foi no ano de 326, há muitos séculos, mas
não chegou a realizar o sonho...

 Entre o ofício de cavaleiro e o tempo que tinha livre
o jovem então passou a divulgar cada vez mais os ensinamentos de Jesus Cristo, o filho de Deus.

- Nono como era o nome de seu nono?

Egídio meu neto, um grande homem do bem, dedicou
a sua vida ensinando as crianças, os jovens e os adultos.

-  Nono, ele ensinava a escrever e contava histórias
tão bonitas como as que o senhor me conta?

Sim meu neto, era um sábio, grande na sua simplicidade, um discípulo de Deus, divulgava a paz, doutrinava os seus alunos, jovens e adultos explicando o quanto importante é se repartir o pão, o carinho, a amizade.

Ensinava a escrever com fé,   preparava as pessoas para serem boas como o filho de Deus nos ensinou.

- Nossa nono que lindo, eu gostaria de ter conhecido ele!

- Ele morava na cidade da Paz?

Sim meu neto, ele nasceu em Martina Franca, onde
até hoje as pessoas recordam o  bondoso homem
que ele foi, uns contam para os outros, de forma
que a memória dele permanece viva.

E seu pai também nasceu lá?

- Pietro, na verdade o nono Egídio teve apenas uma filha chamada Teresa, que nos dias atuais vive na cidade da paz, eu a conheci ainda pequena correndo entre os campos e as casinhas brancas em formato cônico que lá são conhecidas como trulli.

Parecem as casas dos esquimós, só que a deles é de gelo e as de Martina são de pedra. Existe na região
um vale conhecido como Vale do Itria onde se pode avistar uma porção delas. Um dia o nono levará você para ver que beleza de lugar, que gente hospitaleira, visitaremos a Igreja de São Martinho, e quem sabe  
a filha do Mestre Egídio.

- Mas ele não era seu pai então?

Era sim Pietro, meu mestre e o meu pai de coração,
ele ensinou para o nono as primeiras letras, o amor pela terra, a prática da bondade e da caridade, a importância do perdão e o valor da simplicidade.

Com seis anos de idade meu pai Genaro levou-me
para ser alfabetizado pelo nono Egídio,  eu nunca  
mais o esqueci!

Então o nono você tinha dois pais?

Sim Pietro, um de sangue e outro de coração. Hoje ambos moram com Deus.

 
- Nono depois você me conta a história do nono
Egídio?

Claro meu neto amado, disso o nono   amorosamente.
 Nono, e São Martino, continue a história dele.

Pietro, o jovem Martinho continuava a divulgar cada vez mais os princípios cristãos, especialmente a prática da caridade.

Diz a história, que certa vez quando ele o fazia a
ronda noturna em uma noite invernal montado em seu cavalo branco encontrou um pobre homem pedindo esmolas, a neve caía sem cessar, ele tremia de frio.  Este ao ver Martinho implorou ajuda.

 O jovem, tocado pela necessidade de seu irmão, imbuído pelo espírito cristão, como não dispunha de nada para amenizar o sofrimento, desceu de seu cavalo, retirou dos ombros o pesado manto que o protegia do frio, e sem pensar dividiu-o em duas
partes, em seguida colocou uma delas sobre os
ombros do pedinte.

Naquela mesma noite quando  retornou para casa,
feliz por ter ajudado o próximo, sonhou com Jesus e este vestia a metade de um manto, a mesma que poucas horas antes e havia dividido com o desconhecido.

Depois daquele sonho Martino abandonou a
cavalaria romana para então dedicar-se a pregar
os ensinamentos de Cristo.

Foi batizado por Santo Hilário tornou-se monge, fundou vários conventos, tornou-se bispo, converteu milhares de pessoas ao cristianismo, dentre elas a sua mãe.

A principal igreja de Martina Franca é dedicada a
São Martino, padroeiro de várias profissões, também conhecido como o padroeiro dos mendigos. Ele é o primeiro santo não mártir da igreja católica.

- Nono, quando eu crescer quero ser como o senhor! Contar muitas histórias! Quero ser também igual ao nono Egídio e o nono Genaro e bom como San Martino, quero ajudar as pessoas!

Nono Antonino ficou sem palavras. Tomado pela emoção duas grossas lágrimas brotaram de seus
olhos cor de mar...

- Mas e a minha história de Natal, continue nono!

Então Pietro, naquelas casas ricas todas enfeitadas
de luzes coloridas e grandes árvores adornadas de bolas multicolorida os presentes e os alimentos trasbordavam.

Perto das onze horas da noite as famílias muito
bem trajadas saíram para a missa da véspera do
Natal, conhecida como a missa do galo.

- Missa do galo nono?

- É Pietro. Os escritos do século V registram que a comunidade cristã de Jerusalém seguia em procissão até Belém para celebrar a Missa do Natal, sempre na primeira hora do dia 25, hora do primeiro canto do galo, por isso tem este nome. O galo tornou-se o símbolo do testemunho cristão, da fé e da vigilância.

As pessoas todas felizes seguiam em direção à
igreja toda enfeitada de ouro.

Não demorou estava lotada, todos esperando a cerimônia para comemorar o aniversário de Jesus
e em seguida retornarem para casa onde banquetes
e presentes estava cuidadosamente preparados.

Na última fila do banco da igreja Pietro estava
sentada uma família humilde mal agasalhada, e pelos semblantes pareciam famintos.

As pessoas abastadas, mesmo na casa de Deus, quando viram aqueles estranhos -   pai, mãe e um menino aparentando uns seis anos de idade, mal vestidos e com jeito de quem não tinha para onde ir,  via passavam rapidamente para ocupar os primeiros bancos.

Olhavam uns para os outros como quem perguntando de onde havia  surgido aquela estranha família...

- Mas nono, Deus não ensina que somos todos irmãos, que devemos sempre repartir o nosso alimento, que devemos dar atenção e ser caridosos com aqueles
que precisam?

- O senhor mesmo já contou isso  em muitas histórias, eu me lembrei agora daquela que Jesus multiplicou os pães e os peixes para alimentar o povo.

- Então se  as pessoas eram ricas, por que não repartiam os cobertores com aquela família,   por que não deram um brinquedo par ao menino, por que não  a convidou  para o jantar após a missa?

Se eu estivesse naquela missa com o senhor ou
com os meus pais eu pediria para ajudar aquelas pessoas...

Nono Antonino emocionado fitou profundamente o
neto, ao tempo em que agradecia a Deus pelo espírito cristão que se revelava naquele pequeno grande coração.

- É meu neto, aos poucos as pessoas aprendem, Deus ensina também que devemos todos ter paciência e que cada um tem um tempo para aprender.

- Mas conta então nono o que aconteceu na missa....
Quando o Padre fez a celebração falou do nascimento do filho de Deus, da importância de seguir os seus ensinamentos...

Após a comunhão, todos se saudaram. Ao final o
Santo padre deixou esta mensagem – Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado, referindo-se
aos ensinamentos de Jesus.

- E depois nono?

Bem Pietro, na saída da igreja podia se ver a neve caindo feito plumas dos passarinhos, o frio aumentava gradativamente.

Aquela família que o nono falou, que estava sentada
no último banco da igreja, na verdade não tinha para onde ir. Havia caminhado horas até encontrar a igreja.

Quando terminou a missa, a mãe fervorosa disse ao marido – Nosso Pai jamais nos abandona, referindo-se a Deus...

O menino tremia de frio, pedia para a mãe um pedaço de pão. O pai o acalmava dizendo que logo teriam o alimento e o agasalho.

A mulher então criou coragem, colocou-se no final das escadas, do lado de fora da igreja, debaixo da neve que caia sem parar, estendeu as mãos pedindo ajuda para aquelas pessoas bem vestidas.

Mas todas estavam com pressa, queriam festejar, comer, beber, trocar presentes.

Passado um tempo a igreja foi fechada. O pai pegou o menino no colo, abraçou amorosamente a esposa tentando protege-la do frio. Então por horas bateram nos portões pedindo ajuda.

O dia já estava clareando, a família exausta já no final da imensa estrada, duas ruas acima daquelas onde estavam as casas ricas quando  encontrou uma casa simples, as luzes apagadas, parecia que os moradores estavam dormindo.

Quando o pai bateu palmas no portão surgiu um velhinho segurando nas mãos um lampião.
- Bondoso Senhor, estamos com fome, meu filho treme de frio. O senhor poderia nos ajudar?

- O bom senhor com jeito de quem tinha acabado de acordar, mas demonstrando boa vontade convidou a família para entrar.

- Seis crianças com idade aparentando entre três e oito anos dormiam amontoadas em duas pequenas camas, com poucas cobertas...

- São meus netos, nem ganharam presentes de Natal, somos pobres, meu filho está desempregado, somente a mãe deles está trabalhando, mas graças a Deus oramos à meia noite, agradecemos a Deus pai pelo dom da vida, nos abraçamos e desejamos uns aos outros Feliz Natal.

As crianças compreenderam que o Papai Noel
chegará outro dia, só Deus sabe quando...

Ontem jantamos uma sopa ainda tem um pouco,
vou preparar para vocês – disse o bom senhor.

Nas paredes da casa simples Pietro os visitantes notaram que havia muitas embalagens de brinquedos coladas, caixa de bonecas, carrinhos, desenhos de bicicletas, bolas, jogos...

- Qual é seu nome senhor, que tão bem nos recebe?

- Paolo ao seu dispor....

Senhor Paolo, meu menino está perguntando o que
são estas embalagens de brinquedos coladas na parede...

- O meu filho Saverio pai destas seis crianças, trabalha na reciclagem de materiais para ajudar a proteger o planeta e assim ganhar algum dinheiro para a nossa alimentação.

Então, todos os anos nos dias perto do Natal recolhe
as caixas dos brinquedos, recorta os desenhos e cola para as crianças apreciar.

Sempre ele diz – Um dia meus filhos vocês terão brinquedos de verdade.... Então a Fada Esperança faz as crianças acreditar que este dia chegará, e só por isso já se sentem felizes....

- Venham, sentem-se ao redor da mesa, a sopa está aquecida, alimentem seu filho! Tem também este pedaço de pão, podem comer à vontade disse o bondoso senhor com um sorriso no rosto.

Após orar para agradecer o alimento e a acolhida na casa simples, que naquele momento se assemelhava ao local simples onde Cristo nasceu, a mãe disse que precisavam seguir viagem.

- Mas Senhora está nevando, espere eu estendo um cobertor no chão, vocês dormem aqui, está muito frio para sair com a criança, o dia está nascendo, esperem!
Então Pietro, os visitantes agradeceram muito a acolhida do bondoso senhor.

Como era o nome dele nono?

Paolo, meu neto.

Nono, eu tenho muitos brinquedos, se o senhor encontrar aquelas crianças eu quero dividir os meus brinquedos!

O menino estava tão encantado com o conto que por momentos pensou que era realidade.

- Mas meu neto esta é uma história...

A mãe aceitou um velho cobertor para enrolar o filhos.

Despediram-se já no nascer da manhã invernal...

Pietro, na rua das famílias ricas caiu um nevoeiro
tão forte que arrancou os telhados das casas.

Nem chegaram a festejar o Natal....

- o Senhor está de saída com sua família e eu nem perguntei como vocês se chamam.

- É mesmo senhor Paoloi, eu sou o José e minha mulher se chama Maria.

E o menino?

- Ah o menino está dormindo...

Eles se foram Pietro,  sem dizer o nome do filho....

Dentro de poucos minutos desapareceram na estrada nublada....

Pietro, quando o Senhor Paolo retornou para o interior da casa, ficou sem palavras diante do que viu.

Todas aquelas embalagens de brinquedos que
estavam coladas nas paredes haviam se transformado em brinquedos de verdade!

As crianças felizes acordaram os pais, agradeceram ao Papai Noel, ao nono Paolo.

Eram muitos brinquedos! Estavam espalhados no
chão da casa humilde, sobre as camas, em cima dos armários!

Eram muitos brinquedos!

Quando as crianças maravilhadas foram para a
cozinha encontraram, a mesa repleta de guloseimas, chocolates, panetones, bolos, tiramissu, panforte, lasanha, macarrão, assados, sucos e frutas secas!!!

Saverio acordou a esposa para ver quando coisa o

Papai Noel havia deixado para a família.

O Senhor Paolo, tomado de emoção foi até o seu quarto segurando a lamparina, colocou-a em frente a imagem de Jesus Cristo, ajoelhou-se e se pôs a agradecer.

Nono Paolo vem aqui, gritavam felizes as seis crianças todas ao mesmo tempo!

Olha quantos doces o Pap
ai Noel trouxe para a gente!
E quantos brinquedos!!!!
As crianças atendendo o pedido da mãe, Dona Marta, deram as mãos. Em seguida Saverio os convidou
para rezar a Oração que Jesus ensinou, no que
foram seguidos com entusiasmo pelo nono Giovanni.

Pai nosso que estais no céu...

Após a prece todos festejaram o santo Natal, agradecendo ao Papai Noel por tantos presentes.
Mas o nono Paolo  Pietro ficou pensando, sobre a visita daquela família no meio da madrugada, o pai de nome José e a mãe de nome Maria....

Percebera o milagre dos brinquedos....

AO sair no quintal para dar ração ao Toti o cachorrinho de estimação viu na neve as pegadas de pequenos pés...

Retornou, indagou ao neto Marco, de seis anos, se este havia saído no quintal descalço...

- Não nono, eu não sai, imagine com um frio destes eu sair sem sapatos....

Então Pietro, o senhor Paolo  retornou para o quintal e viu que a marca dos pesinhos na neve ia em direção ao portão.  Com o coração inexplicavelmente pulsando de alegria segui-os um a um...

Do lado de fora da propriedade, quando terminou as pegadas percebeu que havia algo escrito sobre a neve....

- Amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado.
Feliz Natal!
Menino Jesus!!!!!


 
Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 25/12/2014
Alterado em 04/02/2015
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