Poeira do tempo
A poeira do tempo embaça as nuvens da esperança, carrega as oportunidades, subtrai os amores, transforma sentimentos, altera a rota e o rumo das vidas. Fugazes momentos de alegria aprisionados nos porta-retratos compõem a nostalgia onde as recordações gradativamente esmaecem nas vias do esquecimento, quando os passos da felicidade transformam-se em silêncio. Paredes mudas abrigam emudecidas pessoas, cada dia mais transparentes diante da indiferença. Qual tempestade de areia no deserto, dunas de poeira fria amontoam-se diante dos olhos. Dor, incômodo, questionamentos. Mas, o próprio tempo que a arrasta distribui a força necessária para se suportar o cotidiano. O que conta não são os contos ou as poesias que nascem dos espinhos, transformadas em rosas na inspiração dos poetas. Também de pouca valia se revelam as lágrimas sentidas, os sons do ontem, os abraços protocolares e a profusão de sorrisos plastificados. Assim é preciso mais que coragem para mudar a paisagem, para soltar as amarras e romper os inúteis conceitos. Até porque todos são capazes de mudar o curso da história, de construírem novos jardins, novas pontes para atravessar as adversidades, de neutralizar a poeira que insiste em impregnar os dias de conformismo estagnando a caminhada. A fé e a prece clareiam a estrada, afastam o medo, a insegurança, a tristeza e a incômoda poeira. E o tempo, outrora visto como usurpador dos amores, das oportunidades e da felicidade, aos poucos sedimenta-se nos braços da serenidade e da paz, proporcionando o equilíbrio necessário para se entender ao final que a vida é uma dádiva, e como tal deve ser vivida. Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 18/10/2015
Alterado em 18/10/2015 Copyright © 2015. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |